segunda-feira, 16 de julho de 2007

O comboio.

Ela sentia a mudança. Sentia que a qualquer hora tudo poderia ser absolutamente fantastico na sua vida ou, antes pelo contrário, absolutamente horrivel.. Ela sentiu que aquilo que vivera durante os seus 17 anos estava a transforma-se. Ela estava a transformar-se. Durante tanto tempo, aquele tempo em que ela tinha a necessidade de se afirmar (mas a fraude era sempre maior que o triunfo) ela sabia que nada iria ser fácil nunca. Tantas foram as vezes que ela se sentiu como nada, como invisivel e transparente. Tantas foram as vezes que teve vergonha dela própria e que ela sentia que qualquer pessoa era e merecia mais do que ela. Foram tempos dificeis, mas ela sobreviveu a isso. Ainda está de pé, e hoje, sabe que estará de pé até as forças se esgotarem... E quem sabe, se tudo correr bem, até mais além das forças inexistentes. Antes o mundo era como um comboio que ela sempre o perdia na estação. Por distração, por medo, por insegurança, por falta de coragem. Ela pensava que nunca ia conseguir apanha-lo apesar de o querer. Mas ela sabia, que até hoje, não tinha feito nada por isso... Um dia, ela viu que o comboio da vida e dos sonhos voltou à estação. Ouviu o seu apitar lá ao longe. Sabia que mais uma vez, poderia ser a sua oportunidade. Sentiu as perna fraquejar, o coração batia mais do que numa corrida de 500 metros a alta velocidade (e por breves instantes ela pensou que ele ia sair pela boca ou que as suas veias poderiam rebentar de tanta emoção), o suor escurria pela face e as mãos estavam escorregadias. Aquele comboio tinha sido tão rápido a chegar, mas seria mais rápido a partir. Ela não tinha bagagem. Ela não tinha recordações nem memórias preparadas para a viagem. Ela não saberia quando iria ser a próxima vez que aquele comboio ia voltar. Ela não sabia sequer se mais alguma vez iria ter a hipótese de o apanhar. Sem nada, exausta do passado e do nervoso, ela viu-o parar à sua frente. E ela ainda estava ali sentada a tentar que as funções corporais respondessem as suas vontades. Ela, para si mesma, disse: "Desta vez eu vou apanhar este comboio. Vou porque quero, vou porque consigo." E num ápice, como se ela se tivesse libertado das cordas que a sufocavam à tantos anos, ela levantou-se sem pensar duas vezes no que deixava para trás e no que levava. A coragem foi o primeiro passo sem movimento. De seguida os movimentos do pé ante pé foram força de vontade e iniciativa própria. Foram confiança em si. Não fraquejou nenhum segundo. Ela entrou no comboio. As portas atrás de si fecharam-se sem ela ter a oportunidade de voltar para trás e sair. Com uma leveza de alma, ela sentou-se num banco de uma carroagem practicamente vazia. Pensou para si mesma "Que comboio mais triste. Vazio e com gente de ar confuso e olhar perdido" e de seguida viu o seu reflexo no vidro da janela e constatou que ela também assim estava. Por momentos ela pensou no facto de que todas as pessoas, como ela e como as outras do comboio, deviam entrar nele sempre que ele aparecesse. Ela não sabia o destino daquele comboio, mas sinceramente isso não tinha importância nenhuma. O importante é que ela já lá estava como sempre quiz! Adormeceu. Ela não sabe por quanto tempo. Mas algum tempo depois de ter acordado o comboio parou. O coração voltou a bater forte e ela nem sabia a razão disso. Olhou para a expressão das outras pessoas e era toda igual. Percebeu que provavelmente a dela seria igual também. Pela janela do comboio pode ler: "Bem vindo à estação da vida nova." As portas do comboio abriram-se e automáticamente ela levantou-se e saiu do comboio. Foi a primeira a chegar cá fora e a sentir o calor do sol e o cheiro do ar. Era um cheiro a fresco. Uma brisa de frutas e de mar. O caminho era apenas um: aquele que ela queria seguir. E com o seu instinto e confiança ela olhou para o sol, fechou os olhos e rodopiou pela estção como um pião roda pelo chão. Parou. Quando abriu os olhos tinha uma direcção desconhecida. Sabia que aquela escolha tinha também um sentido. O seu sentido. O sentido da sua vida. Olhando de novo para o sol e novamente para o caminho deu o primeiro passo. O primeiro passo da sua nova vida.

2 comentários:

  1. Bem, não sei porque nao comentam mais, se calhar nao o divulgas muito, pede aos teus amigos para comentar . : ) Com os meus comments podes sempre contar, gosto muito da maneira como escreves. Da outra vez que cá vim só tive tempo para ler o primeiro e fazer um pequeno comentario mas agora voltei (com mais tempo) e li os restantes . Gostei particularmente deste, nao te sei dizer porque mas gostei muito, talvez seja porque eu propria queira apanhar esse comboio mas nao tenha a coragem que é precisa . Beijinhos e até à proxima . : )

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  2. PAra mim melhor texto que este impossivel
    Está qualquer coisa de lindo:$
    Amei mesmo*

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