quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Metro e meio de divagações.

Saí de casa sem rumo. O destino era aquele a que os meus pés me iriam levar. Simplesmente não queria ficar em casa, quieta, com os pensamentos e os sentimentos às voltas. Está sol, e o vento agitava os meus caracóis castanhos (que por vezes ficavam numa bola de pêlo). De óculos de sol e visão miope (assim não reconheceria rostos nem lugares) deixei-me levar. Entrei na estação do metro com a música a ecoar nos ouvidos e na cabeça e no coração... Meus passos eram calmos e demorados na esperança de o tempo voar. Comprei o bilhete (nas máquinas que só funcionam à pancadinha...) e sentei-me na estação. Lembrei-me de ir alinhar os meus prismas (os que cuidam da minha disléxia, e em época de testes tenho que estar alinhadíssima). A estação do Parque era das ultimas da linha, por isso, escolhi um lugar confortável de onde podesse estar quieta comigo mesma. O metro começou a deslocar-se. Naquele embalo de curvas e carris, de música e sentimentos, o meu pensamento voava até ti. Lembrei-me das sms's que tinha relido na noite anterior antes de adormecer (confesso que o tenho feito quase todas as noites antes de ir dormir) e em especial da última de todas (enviada ontem) em que ainda me dizes um "adoro-te =$*". Como é bom poder ler isso ainda. Como é bom saber que ainda o sentes. E como que com um click vários momentos nossos me passaram sequencialmente pela cabeça. E assim, nesta divagação a paragem chegou depressa. Lembro-me de ir a olhar para o vazio e de sentir que não queria que a viagem acabasse para que o pensamento também não parasse. O metro parou e eu sai. Continuei a caminhar lentamente até às escadas rolantes. Ainda meio atordoada com a viagem e os pensamentos, sonhava ainda ali em pé no meio da multidão. Só o choque da luz do sol me fez voltar à realidade. Caminhei rua a abaixo em direcção ao meu destino. E, 30 minutos mais tarde, caminhei rua acima, novamente em direcção ao metro. Voltei a retirar o bilhete, a descer as escadas e correr apressadamente para o entrar no metro antes dele fechar as portas. Não sei porque corri, não queria ir para casa e era cedo. Entrei no metro e sentei-me. De novo, consegui voltar a entrar em tranze. Era como se o metro activasse um mecanismo dentro do meu cerebro e me levasse para longe psiquicamente. Saí no Colégio Militar (este nome também me trás recordações...) e enfiei-me no Colombo na esperança de espairecer. Andei lá às voltas na esperança de não pensar em nada. E por momentos até o consegui fazer. A tarde foi passando assim, no meio da multidão. Sozinha comigo mesma, levando-te de arrasto comigo. Horas mais tarde rumei em direcção a casa mesmo sem vontade. "Pedimos desculpa pelo incomodo mas a linha azul encontra-se interrompida por motivos técnicos". Boa! E agora? Voltei a colocar os fones e a música e sentei-me entre dois senhores no banco da estação que estava cheia. Lembro-me de recordar uma aula de psicologia em que dissemos esta citação tão simples "por vezes sentimo-nos sozinhos no meio de uma multidão". E eu sentia-me assim. Por mais que me lembrasse do que quer que fosse, por mais gente que ali estivesse eu sentia-me ali, sozinha. Reencostei-me e sentei-me o mais confortável possivel naquele assento duro e desconfortável. E olhando para todas aquelas pessoas o meu pensamento voltou a levar-me a ti. Senti a tristeza de saudades a soluçar cá dentro. Não percebo o porquê de tantas coisas. Eu juro, juro que tento não pensar, não falar neste assunto, mas simplesmente não consigo. Tudo me remete a ti. Tudo me leva (mesmo que não fisicamente) a caminhar até ti e ficar sentada ao teu lado a imaginar-te ou a sonhar contigo. Não posso viver em função disto, eu sei. Nem o quero. Tenho os apoios exteriores, tenho os amigos e as amigas, tenho o meu Pedrinho (que está quase a nascer, mais um mesito) que me dão a força para ainda me erguer. Mas faltas sempre tu. Porque o teu lugar é muito teu ainda. Porque mesmo que vazio de espaço, a tua presença ainda se sente cá dentro. Porque cada lugar, cada gesto, cada minuto que passa me faz sentir a tua falta. E não, não estou mentalmente perturbada. Simplesmente sei o que é o amor porque o sinto. Sei que não sei explicar, mas sei que sei que sinto. E é tão forte. Passado alguns bons minutos o metro chegou. Entrei e sentei-me sem desligar das divagações. O resto do caminho foi feito comigo mesma. Saí na minha estação e caminhei até casa. Estava ofegante porque as minhas pernas impulsivamente andavam apressadas. Não sei qual o caminho que fiz, não sei quanto tempo demorei, não sei com quem me cruzei. Só me lembro de descer a minha rua e acordar daqueles pensamentos hipnóticos e pensar que já tinha chegado. Entrei em casa. Dirigi-me ao meu quarto e pousei os sacos. Sentei-me na cama. E fiquei ali, assim. A música continuava a tocar e eu deixei-a chegar até ao fim.

Um comentário:

  1. Oh minha querida...que texto tão sentido...É verdade,às vezes por mais amigos que tenha, por mais pessoas que te rodeiem sentes-te sempre sozinha...quantas e quantas vezes não me vi a caminhar pelo colombo tentando esquecer quem será sempre impossível de esquecer...Felizmente hoje já ñ é Amor...mas confesso, foram os piores 2 anos da minha vida...que me fizeram hoje etar com uma depressao, e ter que ser acompanhada por psicólogas...É muito mau, e maxuca muito nos gostarmos de alguém...E pensarmos que estamos sozinhas...Mas tu és mais forte e eu acredito que com muita força tu vais conseguir minha querida=)
    Um bom beijinho para ti*

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