domingo, 24 de fevereiro de 2008

★ Analepse

Recordo perfeitamente todas as etapas. Recordo perfeitamente todos os momentos desde aquele dia... Era Outono, finais de Setembro. Eu vinha das aulas, de mais um dia daqueles completamente estafantes. Ao descer a rua deparei-me com uma figura masculina, jovem e bonita. Eras tu. Não tive dúvidas, 5 segundos depois de ter percepcionado eu tinha a certeza absoluta de que eras tu. Nunca te tinha visto, nunca te tinha tido ali diante de mim, mas sabia que queria que estivesses à minha frente mais vezes. Envergonhada, vermelha e trémula foi como me fizeste sentir... Cumprimentamo-nos. Tinhas o mesmo odor característico de hoje, o teu perfume não mudou e tu também não, pois ainda hoje, quando fecho os olhos eu o sinto, e quando estou contigo sei que ainda se mantém... Não o esqueci, tal como não te esqueci a ti... A partir desse dia as conversas passaram a ser mais frequentes, as mensagens começaram a ser mais frequentes... Tínhamos tanto em comum... Lembro-me de tantas das nossas longas conversas... De tantos detalhes e pormenores... De tanta cumplicidade que houve inicialmente e que hoje sinto que se perdeu com o tempo... Comecei a ver-te mais vezes, supostamente por acaso... Não falávamos muito pessoalmente, nunca o fizemos, mas o facto de te ver já significava tanto... Recordo-me de uma vez ficarmos a falar mais de duas horas em pé no meio da rua, eu cheia de frio e tu com calor, e de chegar a casa e pensar que aquilo não tinha acontecido. Sentia-me uma criança a entrar na fase da adolescência... A imagem do teu sorriso e o brilhar dos teus olhos não saíram da minha cabeça, e ainda hoje permanecem intactas, como se estivesses agora diante de mim... Mais tarde, desculpando-me com outro assunto, fui tentando aproximar-me de ti. Era um pretexto, era um dois em um. E acho que foi dessa proximidade originada que ainda hoje te faz ter um lugar tão especial cá dentro de mim...
O tempo foi passando e eu fui tentando a minha sorte. Muitas foram as vezes em que em vão me aproximei e muitas foram as vezes em tu me afastaste... Muitas vezes me magoei, magoaste-me. És uma luta constante, um desafio diário, um futuro inconstante, um desconhecido, alguém que consegue ser tão adorável e tão detestável, sensível e insensível... És uma inércia de qualidades e defeitos paralelamente acontecendo. Inexplicavelmente acontecendo... Às vezes acho que não te conheço, que nunca te conhecerei. E muitas é esse factor, é o mistério que me mantém presa a ti... Sei que no meio de tudo isto tu consegues ser o ideal da minha mente, que continuas a ser aquele com que inicialmente tinha tanto em comum... Muitas foram as vezes em que me desiludiste... Muitas foram as vezes em que me fizeste chorar... Muitas foram as vezes que me fizeste rir... E vá eu para onde for, tudo vai dar a ti... Estás sempre presente, nem que seja no mínimo detalhe da minha vida.
Hoje em dia, após todos estes altos e baixos, continuas tão vivo cá dentro como antes. Um ano e uns meses passaram e parece que nada mudou. Simplesmente agora, umas coisas fazem mais sentido do que antes... Continuamos a ter as nossas conversas, mesmo que parvas e sem sentido, ou sérias e sentidas... Eu continuo a sentir o meu coração bater por ti. E tu continuas a ignorar e a fugir como sempre. E parece que nada mudou... Mas mudou, eu mudei. E entendi e esclareci comigo mesma, muitas coisas sobre ti. E não te deixei... E essa ideia custa-me. E sei que se nunca tentar, se nunca fizer algo, nunca vou saber o que teria acontecido... E mesmo quando o medo do misterioso me faz petrificar, ainda existe uma réstia de esperança em ti... Se estarei a perder tempo ou se será em vão, só saberei se agir. Já me fizeste cair tantas vezes que esta será apenas mais uma...
Muitas vezes gostava que soubesses o quanto significas para mim, o quanto importante te tornaste, mesmo depois de tantas coisas, mas mesmo assim acho que nunca irias entender. Gostaria de te descodificar e entender. Gostaria de um pequeno sinal, por mínimo que fosse, tornaria tudo tão mais fácil para mim... Enquanto isso, só me resta tentar montar o puzzulle em que tento ligar a minha peça à tua e construir um quadro final…


Um comentário:

  1. O que torna as coisas interessantes não é o resultado final mas sim o caminho que percorremos para o atingir. Ou seja, se fosse fácil conseguirmos o que queremos decerto não iríamos dar tanto valor depois de o obtermos. E isso aplica-se a tudo: àquela camisola gira que vimos numa montra, ao leitor de MP3 que está na moda e até dá jeito, e aos amigos (e aqueles que queremos que sejam mais do que amigos).

    Mas infelizmente nem sempre os Puzzles têm a solução que desejávamos. À sempre peças que não encaixam e, quando encaixam, acabam por mostrar uma imagem diferente daquela que gostaríamos de ver.

    Mas como já nos habituámos a cair, mais vale fazer uma última tentativa para dissipar todas as dúvidas. E se não resultar, levantamo-nos e seguimos em frente.

    Não sei se deu para perceber todas as coisas que aqui escrevi. Mas se tiveres alguma dúvida... pergunta que eu respondo. ;)

    Beijinhos,
    João

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