quarta-feira, 5 de março de 2008

★ Multidão

As ruas da cidade estavam na mesma azafama de sempre. Gente de um lado para o outro, agindo como se simplesmente não vissem as outras pessoas à volta. Corriam, andavam mais rápido ou mais lentamente. Umas aperaltadas e outras mais desportivas. Cada uma com os seus pensamentos e devaneios... Simplesmente viviam e deixavam viver ou fingiam que assim era.
Ela vagueava também por essas ruas. A sua mente estava em plena actividade, os pensamentos interagiam, agitados. Eram muitos, distintos, mas remetiam sempre para o mesmo assunto... As mesmas causas, as mesmas consequências. Um afluente de assuntos, uma mixelanea de vivências. Era de mais para uma cabeça. Era de mais para uma vida. Era de mais para uma pessoa. Era de mais para ela. Mas continuava, simplesmente, a aguentar-se e a erguer-se sobre si mesma.
Passava por entre a multidão, calmamente. Sentia-se transparente como que invisível à vista das pessoas. Estava tudo demasiado preocupado com o seu nariz para reparar nos outros à sua volta, para reparar nela. Ela mesma, ia tão concentrada nela mesma, que nem reparara em todas aquelas pessoas... Mas, quando se sentiu sozinha, nem todas aquelas pessoas era suficientes para si, para a sua solidão. Sentia-se nitidamente sozinha, desamparada e com as suas forças no fim. Sentia-se prestes a cair. A ficar no chão, quieta e imóvel. Ela só queria não cair, que não a deixassem cair, que a segurassem entre os braços, com força, e a erguessem. Já não tinha mais forças... Acabou.

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