segunda-feira, 24 de março de 2008

★ Nelas - Páscoa 2008

A noite de 5ª feira foi um tanto ou quanto agitada... Estava farta destes ares, estava farta desta casa, destas pessoas, de tudo o que me rodeava, de tudo o que me fazia pensar e sentir, de tudo o que estava presente, do próprio presente, do meu mundo, de mim... Adormeci horas depois de me ter deitado. Horas depois de ter chorado tudo o que havia a chorar. Devo ter dormido cerca de uma hora. Levantei-me eram 6horas, com muita vontade de me despachar e sair... Era só enfiar a roupa, arranjar-me, fazer a cama e enfiar o resto das coisas na mala... Saí de casa era quase 7horas. Estava frio, o frio da manhã, mas o sol já brilhava. Encontrámo-nos com os meus tios e lá fomos nós direitos a Nelas (Viseu)...
A música ecoava na minha cabeça... Tudo ecoava na minha cabeça... Tudo doía... Tudo me lembrava tudo... E eu não queria pensar em nada... Queria deixar tudo para trás e descobrir o caminho que tinha perante mim... Ansiava tanto fugir daqui, sair daqui, deixar aqui tudo o que havia para deixar e nada me largava... Nada me deixava ir... E eu queria soltar-me e não conseguia... Adormeci, por fim, exausta de mim mesma.
Acordei horas depois em Leiria. Estava a dormir tão profundamente que me custou a sair do carro... O ar gélido parecia cortar o pele... Mas sabia bem para acordar para a realidade... Lembro-me de pensar que daí a algum tempo estaria finalmente em Nelas... Finalmente! Estava toda a gente muito animada, como de costume, isso ajudou bastante... O café ajudou a acordar e soube bem voltar a entrar no carro depois de alguns minutos a bater o dente. Estava acordada, a música tinha voltado ao seu efeito... Por mais que quisesse parar aquilo, não conseguia, não parava... Entrei em retrospectiva... Era inevitável...
Algum tempo depois, os kms até ao destino começaram a ser cada vez menos... Finalmente a chegar! Já não era sem tempo. A viagem foi torturante em pensamentos e isso estava a tornar-se insuportável... Aquela vila continuava a mesma coisa que no Verão passado. Estava tudo igualmente no sitio tirando um pormenor ou outro. Tinha tantas saudades daquele ar, daquelas pessoas! Saudades de estar ali nem que fosse por um bocadinho pequeno...
Malas e sacos para cima e para baixo... A distribuição dos quartos, toda a gente de um lado para outro, a organização da casa... O costume e que sabe sempre tão bem! O primeiro dia passou tão rápido que nem tivemos tempo de o aproveitar... Estava tudo tão cansado da viagem que tudo se deitou cedo. No sábado estava um tempo terrível... Choveu o dia todo praticamente e o frio era superior a tudo. Congelava. Toda a gente parecia cebolas atendendo à camada de roupa que trazia... Desci para o café eram 11horas, em direcção a mim vieram dois bracinhos pequeninos e encasacados que me apertaram fortemente assim que lhe peguei ao colo... Era a minha , a minha princesa... Tinha crescido mas estava tão linda. Linda como sempre. Tive a certeza que ela ainda se lembrava de mim e das brincadeiras do Verão... Foi tão bom aquele abraço... Estava tão necessitada dele que foi como se revitalizasse por dentro e por fora. O meu Samuel também estava enorme e reguila como sempre... Quem o viu e quem o vê... O tempo voa! Tal como estes dias...
Domingo foi o ultimo dia... De manhã fui dar uma volta com a minha irmã... Não discutimos durante estes dias, o que até é de estranhar... Depois do almoço e da Cruz passar (como se diz) fomos visitar as outras "capelinhas" que é como quem diz, algumas pessoas da família... Mais uma vez estive com os primos... A minha princesa sempre a dar o "ar da sua graça"... Mima-me tanto e soube-me tão bem, mas tão bem... Sem ela, teria sido tudo muito mais difícil... Bastou aquele sorriso, aquela expressão, aquele olhar, os beijinhos, os abraços e as brincadeiras... Bastou horas com ela para eu conseguir sentir-me bem e confortável... Foi o melhor que tive e foi o melhor que ela me poderia dar...
Quando dei conta o dia estava no fim... Não queria, não queria mesmo... Parecia impossível o tempo ter passado tão rápido! Não era justo. Não queria ir embora. Não queria de todo sair dali. Aquilo é o meu refugio... Ali sinto que tenho utilidade, que alguém necessita de mim e que faço alguma coisa certa na vida... Ali, sinto-me verdadeiramente em casa, mesmo sem quase nada... Mas sabia que ficar não era possível e que no dia seguinte estaria de volta à selva e à minha maré agitada da vida... As despedidas custaram-me, custam-me sempre... Ver aquilo tudo a ficar para trás... A única coisa que me dava força para voltar era o meu Pê...
Segunda-feira chegou... Acordei com uma dor de garganta horrível e um frio que quase não deixava sair da cama... Algum tempo depois voltei a adormecer no carro... Acordei em Leiria e tinha noção que tudo estava a voltar... Que tanto já estava para trás... Liguei o telemóvel, que raramente esteve ligado durante estes dias, isso não resolvera grande coisa, mas ajudou a não pensar tanto... As perguntas de "como estás?" e "está tudo bem?" eram constantes! Simplesmente limitei-me a ignora-las! Merda, eu não estava, não estou bem! Qual era a dúvida?! A viagem acabou depressa apesar de tudo me lembrar o que eu não queria lembrar e fazer pensar em tudo o que não queria pensar... Tinha a leve esperança de que tudo simplesmente se resolvesse, que já tivesse passado! Ignorância minha!
Entrei em casa, cheirava à minha casa. Lar, doce lar. Arrumei a tralha antes que a vontade me passasse! Tinha realmente acabado tudo... Já estava de volta e agora já não voltaria a trás...
Ver as fotografias fazem chorar de alegria por ter acontecido e de tristeza por ter voltado...

Um comentário:

  1. "Ali sinto que tenho utilidade, que alguém necessita de mim e que faço alguma coisa certa na vida..."

    Não posso acreditar que pensas desta forma!!! Olha que nada é assim tão grave como às vezes pensamos.
    Vamos lá a ver se te animas, OK?

    Beijinhos
    João

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