sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Horizonte


Se eu pudesse, limpava-te a alma e purificava-te o sangue para que todas essas lembranças se fossem embora. Tu não percebes todos os teus fantasmas, mas se eu pudesse, acredita, que os afugentava. Olhar-te é como olhar o horizonte... Fico sempre perdida em pensamentos e divagações. E é sempre tão bonito... O único obstáculo é alcança-lo. Nunca lá consegui chegar...

Vi-te no outro dia, na praia, à beira-mar plantado, caminhando entre a tua solidão e a minha. Se soubesses como é triste olhar-te assim... Aos bocados mutilas-te sempre mais um pouco como se isso já te fosse, completamente, indiferente. Não entendo como consegues baixar os braços à tua vida e fechares-te a sete-chaves num mundo tão escuro em que já nem a tua própria sombra é visível. Até já o mar te derrota quando apaga as tuas pegadas na areia. E tu deixas! Vi-te cair exausto no areal, mas nem o mar te levou... Nem ele te quis, assim, miserável. Não, não consigo ter pena de ti. Porque a culpa é tua e só tua. Não aceitaste nem a minha mão nem o meu abraço. Quiseste simplesmente fugir do mundo. Mas, sinceramente, acho que é o mundo que está, agora, a fugir de ti. E a escolha foi tua. Virei-te as costas, deixei-te ali a consumires-te sozinho. Não podia fazer mais nada. Fui para casa... Tirei, de dentro do armário, a nossa caixa. Havia, ainda, uma pilha de fotografías para colocar no álbum. Há meses que elas estavam à espera que tu me pedisses para te ajudar a cola-las no sítio e relembrar-mos todos aqueles nossos ex-momentos... E eu, tal como elas, estava na esperança que tu um dia voltasses desse teu sítio... Fiquei ali sentada a contempla-las.
Os dias foram passando, os meses foram passando... E, curiosamente, os anos também foram passando. Nunca mais te vi, nem na praia. Nunca mais soube nada de ti. E, acho que, em certa parte, também nunca mais soube nada de mim... Pois nunca mais vi o meu horizonte...

3 comentários: