sábado, 30 de agosto de 2008

Recordações

Tenho saudades do tempo em que era menina. Inocente, de bochechas rosadas, que brincava com as bonecas e corria pela casa espalhando alegria e sorrisos. Não havia preocupações nem horários. Havia tempo e atenção. E tudo era quase perfeito... Quem me dera que pudesse puxar o tempo atrás... Mas não posso. E isso faz-me viver numa constante analepse, que euforicamente adoro e odeio. Gostava de voltar a ser criança. E quando penso nisso recordo-me daquela casa, recordo-me de quando todos saiam para trabalhar e eu ficava contigo. Tinhas uma paciência para mim... Até mesmo na idade dos porquês. Recordo-me muito bem de um certo dia em que...

Secaste as mãos, engelhadas, pelo tempo e pela água, no teu avental gasto, cujo tecido já quase abria buraco. Sentaste-te na cadeira junto à janela e chamaste-me para o teu colo. Corri até ti. Sentaste-me nas tuas pernas e com toda a paciência que ainda tinhas, contaste-me mais uma das tuas histórias...
Não eram os teus cabelos brancos que te afligiam. Afinal, velhos eram os trapos e tu ainda estavas ali para as curvas. Ficavas ali, horas a fio, dialogando comigo, contando-me todas as tuas histórias, todas as que te vinham à memória.
Agora, questiono-me da veracidade de todas elas... Mas também, agora já não importa... E eu não me cansava de as ouvir. Simplesmente detestava quando chegava a hora em que dizias: por hoje já chega de histórias, amanhã há mais! Um pouco chateada lá ia eu, de novo, ter com as bonecas que estavam em cima da alcatifa. E tu ias acabar de lavar a loiça, esquecida na bancada à umas horas atrás...

Hoje, já nada é assim. Hoje só restam saudades e recordações, dos momentos e de ti. De ti que te foste já à alguns anos. Acredito que, estejas onde estiveres, estás a ver-me. Acredito que quando me recordo das nossas tardes és tu que estás a pensar em mim. Acredito que também tu sintas falta de me ter sentada no teu colo, tal como eu sinto falta de estar sentada nele.

Ás vezes dói um bocadinho quando penso que já partiste...

Tenho saudades tuas...

Mas um dia, voltarei a estar perto de ti.




Dedicado à avó Rosalina.

Um comentário:

  1. é tão bom recordarmos pessoas que foram importantes na nossa infância e no nosso crescimento. adorei :') beijinho

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