quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Coffe Break

As paredes são de um cinzento escuro, com um elemento floral em preto, que as adorna de uma forma tão característica. Os sofás são confortáveis e o cheiro a cigarros e café compõem o ambiente à minha volta. Observo tudo tão meticulosamente que me esqueço de pedir o café à empregada que está neste momento parada diante de mim. Sorriso de orelha a orelha num tom simpático, observa-me interrogando-se da minha lucidez. Tem o sobrolho franzido e, por isso, apercebo-me de que me observa em tom interrogativo. Faço o meu pedido de modo a desviar-lhe as atenções e, volto a perder-me em pensamentos. Estou demasiado concentrada no meu mundo.
Mais um ano a terminar e tantas coisas me preenchem a cabeça e me afagam o coração. Estou a fervilhar de tantas sensações simultâneas. Chorei, sorrir, aprendi, mudei, vivi, caí, odiei, detestei, amei, mudei, construí, destruí, pensei, agi... Tudo tão simultâneo e ingénuo, na esperança de fazer tudo tão certinho com os segundos de uma vida. Muitas vezes, isso não aconteceu e, foi quando descobri, que os contos de fadas são decididamente pequenas histórias elaboradas nuns livrinhos, todos pomposos, para enganam as crianças que ainda estão debaixo da asa dos pais e que podem acreditar naquelas coisas pois o seu coração não se irá despedaçar em mil pedaços. A sua primeira desilusão será apenas quando descobrir que o Pai Natal afinal não existe e que as prendas estão dentro do roupeiro desde o inicio de Novembro (afinal de contas, aquele cheiro a naftalina não era do saco do Pai Natal, mas sim do roupeiro de uma tia qualquer). Mesmo assim, nunca perdi a esperança de escrever a minha própria história e fui adquirindo novas personagens, ao longo destes 12 meses, para fazerem para dela. Conheci verdadeiros heróis e cruéis vilões e todos eles tiveram o seu destaque num papel mais ou menos longo. Alguns ficaram para sempre no baú das memórias, escondidos e serão recordados quando for necessário ou quando a saudade apertar. Outros, estão activamente presentes, sempre em contacto comigo de modo a partilhar as experiências positivas ou negativas, as cusquices e os telefonemas de horas eternas. Foram eles que me ensinaram que o pior não é quando caímos, mas sim, quando nos tentamos erguer sozinhos. E por isso, eles estiveram sempre lá quando foi preciso (e mesmo quando não foi).

Janeiro foi o mês de um novo começo. Atafulhei-me nas 12 passas ansiando que os meus desejos finalmente se concretizassem. Serrava os dentes com demasiada força para ter a certeza de que queria mesmo os desejos em realidade portanto estes se iriam realizar -se (não vá o diabo tece-las é melhor morder bem!). 12 desejos depois e sentia-me pronta a começar um novo ano. Este ia ser finalmente um ano de mudança (nem que fosse com umas novas grainhas enfiadas nos dentes depois de tanto trincar e portanto uma visita ao dentista). Queria deitar tudo para trás das costas, ser uma pessoa nova e renovada como se o que ficou para trás estivesse, definitivamente, esquecido para sempre. Recordo-me de estar feliz e de sentir que a minha vida estava a dar a tão merecida volta. Bendito 2009! Dias depois... Desejava que pudesse morder 12 passas, novamente, enfrascar-me em champanhe até cair para o lado, esquecer e recomeçar tudo novamente.
Fevereiro veio tão rápido que me tirou o chão, os tapetes e o mundo debaixo dos pés. Caí tão fundo... Descobri que existem pessoas más no mundo e que, se calhar, estava na altura de me atirar de uma ponte abaixo ou então agarrar numa arma qualquer e dar uns quantos tiros no rabo de umas quantas pessoas! Como achei que atirar-me da ponte era demasiado usado actualmente e que as balas eram capazes de dar uns quantos problemas com a policia, optei por ganhar coragem e agir conforme aquilo que devia ser feito. Já estava na altura de sair do casulo e mostar que também sei fazer as coisas muito bem feitas! Quando dei por mim estava cercada de questões existenciais e escolhas para fazer. Aleatoriamente seleccionei o que achei por bem executar e levei a tarefa até ao fim. Hoje em dia sei que fiz escolhas certas e não me arrependo de um único passo que dei. Sou feliz por saber que, pelo menos uma vez em 2009, fiz o que tinha a fazer enfrentado o mundo de nariz erguido. Afinal quem manda aqui sou eu!
Março... Março foi o mês das primeiras vezes para umas quantas coisas. Foi melancólico e infindável. Aconteceram demasiadas coisas para descrever mas, uma vez assombrada pelos momentos e recordações não consigo simplesmente falar deles... Apenas sei que os vivi e, nem sempre, de uma forma feliz. Foi o inicio de muitas coisas e o fim de tantas outras. Será um mês lembrado para sempre (principalmente o dia 4), para sempre...
Abril a fossa alargou-se vertiginosamente e fechou-se ao mesmo tempo. Por tal sucedido, essa mesma fossa, ruiu meses mais à frente! Nunca se deve pisar sobre os túmulos mal cessados! Lembro-me de estar fechada em casa, de faltar às aulas e de dormir dias inteiros só porque sim! Contribui para a economia do país num gasto acentuado em lenços de papel e contribui também para mais umas quantas árvores derrubadas devido ao gasto de papel. Posteriormente o sol voltou a sorrir e eu achei que com a chegada da primavera os passarinhos voltavam a cantar!
Maio, mês do meu aniversário. Celebrei à grande e com boa companhia. Como disse, muitas vezes, só fez falta quem esteve e foi uma grande noite. 19 anos e um mês praticamente estável em 2009. Também sejamos francos: nem todos os meses podem estar recheados de surpresas a cada minuto que passa, não sou assim tão importante para tal!
Junho e Julho época de exames, estudo, muito estudo, stress, estudo, queda de cabelo, muito estudo, desespero, estudo, exaustão, estudo, nervosismo, estudo, muito estudo, lágrimas, ainda mais desespero, choro e muito choro, dia dos exames, ansiedade compulsiva, estudo continuo de quem já sabia que ia à 2ª fase mesmo sem saber as notas, desespero de causas perdidas, apelo a todos os santinhos, mais estudo, ainda mais desespero, o receber das notas, o desanimo, o estudo compulsivo, as directas, os hibernanços no centro de explicações, mais estudo, muito estudo, drama, desespero, estudo e dia dos exames. No fim já não havia mesmo mais nada a fazer portanto estava de férias acontecesse o que acontecesse! Esperei umas longas semanas e comecei a fazer as malas para ir embora de Lisboa afinal, estava finalmente de férias e não queria saber de mais nada! Era como se fosse um ano novo sem passas! Recomeçar. No ultimo dia em Lisboa, apercebo-me que afinal serei caloira e que irei para a faculdade! Uma coisa estranha para quem já tinha escolhido uma escola secundária para onde iria mudar! Ainda não tinha acreditado muito bem na noticia e já estava a pagar 175€ para a candidatura. "Candidatura aceite" e eu a pensar que isto não devia ser para mim e que devia ter havido um erro qualquer no sistema informático. Seria mesmo real ou tanto estudo tinha-me feito mal ao neurónios?
Agosto. Lá fui eu a caminho de Melides. Feliz da vida e ainda incrédula do que tinha acontecido dias antes. Mas agora o importante era trabalhar para o bronze, descanso e estar na praia com os meus amigos. Foram os melhores 15 dias, os melhores. Uma vida pode passar mas estes momentos serão sempre tão únicos e perfeitos! Dia 16, lá vou eu rumo a Nelas. Nostálgica pelo fim de Melides mas feliz por ainda não ir ficar já por casa. Mais de uma semana entre tios, primos, pais e irmã (e algum drama familiar à mistura...). Por fim, o regresso a casa até me iria saber bem. Afinal de contas uma nova etapa estaria a começar.
Setembro voou entre idas às compras, passeios com as amigas, muita praia, muito café e umas boas tardes na esplanada. Não fazer nada, dormir até tarde e deitar ainda mais tarde foi uma vida a que nunca tive dificuldades em habituar-me.
Outubro já quase no seu fim e era tempo de acreditar na realidade: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias - Psicologia. Euforicamente lá fui eu para as praxes! É bom sentir a união e a presença de todos aqueles que querem percorrer caminhos como os nossos, ou nós como os deles. Gritei até ficar praticamente afonica e orgulho-me bastante da Rosinha que há em mim! Nunca uma boneca cheirou tão mal e esteve toda pintada dos pés à cabeça com uma dor já quase insuportável nas costas. Mas perante o orgulho no nosso curso, o que mais importa? Fiz amizades que ainda hoje estão de pé e um grupinho muito característico pela euforia dos dias e das noites. Tenho um padrinho e uma madrinha que estarão sempre presentes e de quem me orgulho muito. Mudei bastante e cresci. Sobe ser forte e ser eu como sempre fui, sem medos. Foi uma mudança, mas para melhor. E nem a rotina me fez desistir desta nova vida de caloira Rosinha.
Novembro e as aulas começam. Uns professores melhores que outros, mas obviamente que o nosso grupinho de corte e costura começou logo a funcionar quanto a isso. Começamos a ser assombrados por pilhas de livros para comprar e pelos trabalhos e datas de frequências. Como seria de esperar as festas começam a surgir todas as semanas e como era de esperar lá estávamos nós sempre batidas. Um arraial aqui, uma gala ali... E muita diversão à mistura. Mas lá estávamos nós sempre juntas(os).
Dezembro é o mês no Natal, das compras, da família e da nostalgia. É o mês em que voltamos a comer as passas e entramos em Janeiro em simultâneo. É quando reflectimos e fazemos um balanço sobre a nossa vida sem saber muito bem se nos apetece reviver tudo novamente ou não. É quando dizemos que vai começar tudo de novo como se fosse uma folha em branco que estamos ansiosos para começar a escrever. Temos novos sonhos e novas escolhas. Queremos tudo e mais alguma coisa e achamos que vamos ser os donos do mundo e que a mudança vai ser este ano. Este ano é que vai ser!
Eu continuo sem saber se é este ano que vai ser... Afinal de contas ainda está para vir e eu quero é vivê-lo intensamente a cada segundinho que passa. Não quero adiantar-me ao tempo e aos momentos. Estou farta de sofrer por antecipação aos factos. Portanto, a minha decisão de ano novo, vai ser um dia de cada vez! Também estou a pensar em voltar a ser feliz. Acho que perdi a minha felicidade algures entre a minha loucura e a minha tristeza. Ou será que a afoguei em todas as lágrimas que gastei? Bem, o que interessa é que vou ser feliz. Nem que tenha de treinar com umas quantas gargalhadas por dia em busca de que se tornem automáticas. Ah, também vou ser menos compulsivo-stressada. Afinal não é todos os dias que estamos a tirar um curso de psicologia e descobrimos que os pseudo-neuróticos e a histeria estão fora de moda. Já dizia o amiguinho Freud que estas coisas tinham muito por onde pegar. E por agora acho que não me lembro de mais nada que tenha decidido. Mas também ainda tenho algumas horas para preencher a lista. Mas o que decidi, está decidido.

Apercebo-me que já é tarde. Estou sentada nesta mesa à horas, com um café à frente já gelado e sem espuma. Como eu detesto café sem espuma tive de voltar a pedir outro. A empregada olha-me com ar de quem se interroga se estou a estudar as borras do café e só por causa disso peço um capuccino que sempre é maior, quente e tem mais espuma! Observo-a a prepará-lo meticulosamente e dois minutos depois já o tinha em cima da mesa. Está quente e tem aquele aroma que dá vontade de guardar no nariz para sempre e ir cheirando de vez em quando. Saboreio-o lentamente, à medida que me apercebo que acabo sempre perdida em pensamentos e divagações. Nostalgicamente entrego-me ao que me absorve e ao que eu absorvo. E voltando a embrenhar-me em mim e na música que soa no ar, fico ali perdida mais umas horas, contemplando o tempo que passa e o mundo que gira lá fora.
A chuva cai e eu deixo-me levar com ela, por aí.

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Bom Ano de 2010.
Que todos os sonhos o deixem de ser.
E que a realidade vos preencha o coração.
Um grande beijo na testa,

Alexandra Fernandes




Um comentário:

  1. Que tenhas um bom Ano querida:) recheado de coisas boas, com tudo tudo de bom.Um grande beijinho*

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